Caros companheiros da irmandade masculina,
Gostaria de convidá-los a participar do movimento Neo-Feminista, ajudando a resgatar o passivo colossal que recebemos de herança de nossos antepassados.
Nosso objetivo é simples: contribuir para que as mulheres tenham prazer.
Sim, meus caros, as mulheres são capazes de sentir prazer, independentemente de sua idade, aparência, religião ou posição social.
Na verdade, são capazes de sentir muito mais prazer do que nós, os homens.
Suspeito, inclusive, que foi por pura inveja que os decanos ancestrais de nossa irmandade elaboraram essa estratégia nefasta para limitar o prazer feminino.
Nos últimos dois milênios conseguimos fazer com que as mulheres passassem a sentir culpa por sua capacidade de ter prazer, medo de seus desejos e vergonha do próprio corpo.
Teríamos ganhado mais reconhecendo sua superioridade sensorial e aprendido com elas, ou apenas aproveitado o prazer de admirá-las em seu gozo.
Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. Pensemos no futuro.
O primeiro passo é dar nossa permissão para que elas possam voltar a sentir prazer sem julgá-las mal por isso.
Não é pouco. Também nós fomos vítimas dessa estratégia milenar. Incorporamos a ideia de que uma mulher com desejos e determinação para saciá-los não é digna de respeito. Somos vítimas do medo atávico da perda do controle e, depois de tantos séculos, não sabemos como lidar com uma fêmea de paixões intensas.
Precisamos aprender a reconhecer a beleza dessa energia feminina e nos alimentar dela.
O segundo passo é convencê-las de nosso sincero propósito e da intenção de acolhe-las em sua explosão.
Também não será fácil. As mulheres são sensíveis, observadoras e estarão atentas a cada pequeno gesto, olhar ou palavra, prontas para reconhecer a crítica que tanto temem.
O terceiro passo é o mais divertido. Vamos desenvolver nossas habilidades de estimulá-las sensorialmente. Motivá-las a exercitar sua sensibilidade, a reconhecer o potencial orgástico de seu corpo, a aceitar e realizar seus desejos. Vamos ajudá-las a amar a si mesmas.
As mulheres, meus caros, já não se amam. E como poderiam, depois do que fizemos ? Depois que demonizamos todas as características que as fazem diferentes de nós ?
Reclamamos da famosa TPM, mas o que é ela senão uma revolta contra chegada da menstruação que, por culpa nossa, é mal recebida.
Criticamos sua excessiva preocupação com a aparência, com os quilinhos a mais, com a celulite. Mas quem as ensinou a ter vergonha do próprio corpo ? E quem enaltece, no discurso, a perfeição das formas ? Claro que é uma excelente estratégia para deixá-las mais inseguras e facilitar a conquista. Mas, acreditem, não vale o preço que pagamos depois.
Detestamos sua falta de disposição para o sexo mas, convenhamos, depois de instalar a culpa pelo prazer e a insegurança pelas “imperfeições”, como querer que elas desejem participar da nossa satisfação pessoal ?
Uma mulher que reconhece seu corpo como fonte inesgotável de prazer aprende a se amar e estará sempre disposta a compartilhar esse amor e esse prazer.
Honestamente, meus caros, temos muito a ganhar com isso, e nada a perder.
O último passo é, talvez, o mais difícil: aprender a conviver com essa nova e intensa mulher.
Uma mulher que vai amar a si mesma e a vida, antes de nós. Que sera mais independente, autossuficiente e realizadora. Que conquistará, finalmente, a “igualdade” de direitos que lhe foi surrupiada a tempos.
Não estamos acostumados a isso. Sequer temos registros históricos fidedignos de como era o mundo quando isso existia. A história, meus caros, foi escrita e administrada por nossa irmandade e os textos divergentes de nossa estratégia foram considerados apócrifos e destruídos.
Essa nova mulher não é aquela que surgiu do antigo movimento feminista.
As feministas conquistaram o direito de serem iguais aos homens.
As neofeministas conquistarão o direito de serem mulheres em toda a sua plenitude.
Essa situação vai nos deixar bastante inseguros num primeiro momento, principalmente porque não temos referências para o papel que iremos desempenhar nessa nova situação.
Mas poderemos contar com nossas companheiras.
As mulheres plenas, satisfeitas e felizes são generosas e acolhedoras. Sabem escutar e orientar. Nos ajudarão a encontrar o caminho para a boa convivência.
Não julgue pelas experiências que teve até hoje. A mulher que se irritava com você por qualquer coisa estava apenas manifestando sua revolta pela condição que lhe impusemos. Respeito e liberdade são correspondidos na mesma moeda, e elas também são melhores do que nós na arte de dar suporte emocional.
Essa é a causa para a qual convido vocês.
Vamos, juntos, resgatar da extinção as mulheres dos nossos sonhos.
Felicidade dá trabalho mas paga bem.